Essa imagem é fragmento de um trabalho em processo. O tema do trabalho é samba de gafieira. É um croqui do meu sketchbook trabalhado no photoshop. Existem certos personagens cariocas, tipos urbanos, que parecem onipresentes e se tornam parte do imaginário coletivo. Essa morena, que chamei de "morena rosa" não é o retrato de ninguém, é um tipo, um tipo de morena que todo mundo tem na cabeça, cada um a sua. É um frankenstein de dezenas de morenas que vi ao longo da vida. Na minha cabeça ela tem grandes olhos verdes, tornando-se ainda mais fatal. É um tipo quase atemporal. Tanto é que, desconfio que Baudelaire (1821-1867) participa desse imaginário coletivo quando escreve em "Flores do Mal", um poema intitulado "A uma dama crioula". Prova que a admiração dos gringos pelas mulheres negras, verdadeiras forças da natureza, já é coisa de longa data. Ele diz assim:
No inebriante país que o sol acaricia,
Sob um dossel de agreste púrpura bordado
E a cuja sombra nosso olhar se delicia,
Conheci uma crioula de encanto ignorado.
A graciosa morena, cálida e arredia,
Tem na postura um ar nobremente afetado;
Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,
Seu sorriso é tranquilo e seu olhar ousado.
Caso viesses, Senhora, à heróica e eterna França,
Junto às margens do Sena ou onde o Loire se lança,
Tu que és digna de ornar os solares altivos,
Farias, ao abrigo das sombras discretas,
Mil sonetos brotar no coração dos poetas,
Que de teus olhos, mais que os negros, são cativos.
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