Esses são desenhos de algumas semanas atrás que esqueci de postar aqui. Fizemos um picnic nos jardins do MAM. Estavam presentes diversos professores e um bom número de alunos entediados pela greve e com vontade de aproveitar mais um dia sensacional de sol na cidade maravilhosa.
Tenho uma ligação afetiva muito forte com os jardins do MAM, por diversas razões. Na minha infância, meus pais constumavam me levar lá para andar de bicicleta, pegar sol, fazer picnic, costume que guardo até hoje. Naquela época (distante) costumava escalar as pedras do jardim e a estrutura de concreto (em "V") do edifício (já me relacionava, em certa medida, com arquitetura de primeira qualidade, mesmo que de forma inconsciente). Em uma galáxia mais próxima do tempo, também são inesquecíveis as tardes de domingo nos ensaios do Orquestra Voadora durante o pré-carnaval.
Muitos amigos meus (não arquitetos) acham que o projeto do MAM é do Niemeyer, mas eu os informo que estão equivocados. O MAM foi projetado por um dos arquitetos mais talentosos de sua geração e que, infelizmente, morreu prematuramente. Seu nome era Affonso Eduardo Reidy e, além do MAM, nos deixou várias obras construídas, dentre elas: Aterro e Parque do Flamengo, conjunto residencial Pedregulho (São Cristovão), conjunto residencial Marquês de São Vicente (Gávea), Teatro Popular Armando Gonzaga (Marechal Hermes), inúmeras residências espalhadas pela cidade e tantas outras.
Alguns entendidos dizem que, enquanto Niemeyer é um grande criador de formas, Reidy era capaz de associar riqueza plástica com conteúdo social e viabilidade econômica. A criação do Departamento de Habitação Popular, pela engenheira Carmen Portinho, possibilitou que Reidy (indicado como Chefe do Setor de Planejamento) realizasse obras de destaque nacional e internacional, como são os casos dos conjuntos residenciais do Pedregulho e da Gávea. O projeto do Pedregulho ganhou o Primeiro Prêmio da Bienal Internacional de São Paulo de 1951.
Como escreveu Nabil Bonduki: Affonso Eduardo Reidy é um dos pioneiros da renovação da arquitetura no Brasil, formando com Lúcio Costa e Oscar Niemeyer, o grupo de proa que colocou a arquitetura moderna brasileira em destaque no cenário internacional.
Destaco aqui um trecho de um texto de 1953, do próprio Reidy, sobre o projeto do MAM:
"Se a correspondência entre a obra arquitetural e o ambiente físico que o envolve é sempre um questão da maior importância, no caso do edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro essa condição adquire ainda maior vulto, dada a situação privilegiada do local em que está sendo construído, em pleno coração da cidade, no meio de um extensa área que num futuro próximo será um belo parque público, debruçado sobre o mar, frente à entrada da barra e rodeada pela mais bela paisagem do mundo. Foi preocupação constante do arquiteto evitar, tanto quanto possível, que o edifício viesse a constituir um elemento perturbador na paisagem, entrando em conflito com a natureza. Daí o partido adotado, com o predomínio da horizontal em contraposição ao movimento perfil das montanhas e o emprego de uma estrutura extremamente vazada e transparente, que permitirá manter a continuidade dos jardins até o mar, através do próprio edifício, o qual deixará livre uma parte apreciável do pavimento térreo. Em lugar de confinar as obras de arte entre quatro paredes, num absoluto isolamento do mundo exterior, foi adotada uma solução aberta, em que a natureza circundante participasse do espetáculo oferecido ao visitante do Museu. [...]"
Fonte: Affonso Eduardo Reidy / [Organizador/editor Nabil Georges Bonduki] - São Paulo : Instituto Lina Bo e P. M. Bardi ; Lisboa : Editora Blau, 1999.