às vésperas da eleição para Presidente,
para curar a ressaca do escravos da Mauá
A primeira vez que ouvi falar no morro da Conceição foi na graduação em arquitetura e urbanismo, mas que porra de morro é esse? pensei. Santa ignorância, o morro é um dos marcos da ocupação original da cidade e, junto com os morros do Castelo, de Santo Antônio e de São Bento, delimitava o núcleo urbano do Rio de Janeiro, onde a cidade se desenvolveu durante os seus três primeiros séculos de vida desde a sua fundação, em 1565.
O aspecto da ocupação residencial de suas encostas e o rítmo dessacelerado de seus habitantes nos remetem, até hoje, aos bairros tradicionais portugueses. No entanto, as transformações urbanas no entorno e o crescimento da cidade acabaram escondendo o morro atrás de enormes edifícios. Não é de se admirar que um estudante universitário ignorante não conhecesse o lugar, ele não era visível aos desatentos ou aos exploradores menos curiosos. Enfim...mas é melhor ficar escondido do que compartilhar o destino dos morros do Castelo e de Santo Antonio, ambos derrubados ainda na primeira metade do século XX.
Uma pequena capela construída no topo do morro em 1590 em homenagem à Nossa Senhora da Conceição acabou dando origem ao nome do morro. Mas além do nome no morro, alguns nomes de ruas são muito interessantes e nos transportam para um tempo que não existe mais, um tempo mais informal, onde os nomes das ruas falavam um pouco sobre as mesmas. Como exemplo, posso citar a rua do Escorrega (que é um ladeirão) ou a rua do Jogo da Bola, a travessa do Sereno, o largo da Pedra do Sal (onde as embarcações descarregavam sal no passado).
No morro da Conceição, a cultura carioca se manifesta na rua, no espaço público, e mistura todo tipo de gente. Gente como a gente e também as figuras mais bizarras. Acho que isso é o máximo, é ótimo, e para completar, totalmente grátis, 0800.
A famosa Pedra do Sal era e é o ponto de encontro de sambistas. Toda segunda-feira à noite podemos aproveitar a concorrida roda de samba da Pedra do Sal para ouvir e cantar de peito aberto os sambas clássicos de Candeia, Cartola, Walter Alfaiate, Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Élton Medeiros, Dona Ivone Lara, Donga, Geraldo Pereira e tantos outros. Como diz a música:
"a nêga vai reclamar, isso pra mim é normal,
toda segunda-feira tem roda de samba na Pedra do Sal."
Nas noites de sexta-feira, a boa para matar a saudade das clássicas marchinhas de carnaval é o disputado bloco do Escravos da Mauá, que rola no largo de São Francisco da Prainha.
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